O voo da guira una

INTRODUÇÃO

 

Guira una, ou graúna, é uma palavra em tupi que significa pássaro-preto. Uma ave de canto potente e melódico e que, por causa disso, acaba sendo bastante cobiçada por muitos gaioleiros. Nas minhas férias de infância em Minas Gerais era comum ouvir esses cantos vindos de algumas gaiolas logo pela manhã e, por mais bonitos que fossem, eram para mim muito melancólicos e soavam como um pedido de liberdade.

 

POÉTICA

 

Esta memória conectou-se a um desejo recente de retomar um processo criativo que também tenta se libertar de algumas amarras. São chamados de desenhos livres porque levam o ato de desenhar para um território onde os compromissos com as formas e as relações com o tempo abrem espaço para linhas feitas com gestos mais espontâneos. Produzidos logo pela manhã no decorrer de 30 dias e inicialmente em pequenos formatos, os desenhos se expandem para uma tela grande formato, testando assim os limites de alcance dos gestos corporais. As abstrações que surgem neste percurso não só se tornam um espelho do próprio corpo em movimento, como acabam compondo no conjunto uma narrativa visual que sugere momentos diversos de um voo livre. Neste resgate do gesto mais livre surge também uma metáfora que parte dos aprisionamentos que nos são impostos pelas formas hegemônicas de produção na arte e se desloca para tantas outras vozes que lutam contra o preconceito, a intolerância e as manifestações de poder que cerceam nossa liberdade.